Pablo de Carvalho

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Recife, Pernambuco, Brazil
Escritor (romancista), compositor, cronista e delegado de polícia. Vencedor do prêmio Alagoas em cena 2006, com o romance Iulana, publicado, no mesmo ano, pela Universidade Federal de Alagoas. Vencedor regional e nacional do programa Bolsa Funarte de Criação Literária 2011, da Fundação Nacional de Artes, do Ministério da Cultura, com o romance policial Catracas Púrpuras, lançado no Rio de Janeiro, em novembro de 2012. Escreveu, também, a novela O Eunuco (Edições Catavento, 2001), e o romance O Canteiro de Quimeras (Writers, 2000). Compôs, em parceria com Chico Elpídio, o disco Contemporâneos.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Os chifres de Robert Pattinson (cotidiano)


Num bar, ou melhor: num boteco, em beira de praia, lá na cidade das coisas impossíveis, depois de um dia duro de trabalho, sento-me com Robert Pattinson (aquele vampiro da Saga do Crepúsculo, que levou chifre do diretor) pra tomar uma bicada.

Ele está um bagaço: branco, anêmico feito um cadáver, inimigo da vida.

O garçom chega e pergunta o que vamos querer.

- Uma cerveja gelada, uma dose de cachaça e um caldinho de peixe, digo eu.
- Um copo de sangue. Não quero comer nada, diz ele, friamente, escondendo os caninos.

O garçom sai com os pedidos.

- E então, Beto (digo eu), que bronca, hein!
- Nem fale, “man”; estou com vontade de matar aquela vampira!
- Avimaria, e vampiro morre?
- Não, “man”... É verdade... Ó céus, terei de suportar o chifre eterno...
- Danou-se...
- O pior é que eu realmente pensei ter encontrado o amor eterno! Tudo estava tão perfeito! O público aos meus pés! Aquela “girl” condenada aos meus pés! Tudo era meu...
- Sim... A eternidade... O sangue das massas, o sangue dos não-eleitos... A boniteza eterna... (falei isso meio distraído, com um cigarro aceso e os olhos pousados no mar) Que sonho!
- Como é, “man”?
- Nada... Deixa quieto... Sim, mas, e o futuro? A fila anda, hômi! Ó: tem umas meninas naquela mesa olhando pra tu...
- Não tem essa de futuro, “man”... A vida acabou.
- Veja bem, Beto: a vida tinha acabado quando você virou um vampiro, eterno na vida como na tela, e enganado nas duas (quase sorrio, mas me contive respeitosamente). Agora, a vida começa!
- Como assim?

O garçom chega. Brindamos, tomamos um trago. Eu sigo a dizer:

- Meu velho, a vida não é só sugar o sangue alheio e dar água pra elefantes! Acorde desse caixão! A vida dói, e a vida mata! Mas ela é bonita, tem uma beleza difícil de explicar, quase impossível de justificar...
- Estou entendendo...

Tomo outro copo, viro a dose de cachaça. Encorajado, continuo:

- Aquele diretor que atacou o pescoço da sua mulher, ele não dirige só filmes, como você agora pode entender. Ele dirige tudo que está abaixo dele (gente inclusive), como se fossem suas coisas, como seus brinquedos, e ele também é dirigido por outros motoristas, digo: diretores. Vocês jovens apenas pensam que comandam a vida de vocês, e que são eternos, e que podem enfiar os dentes na jugular de quem quiser, indistintamente...
- “Man”, você está sendo muito duro comigo...
- Desculpe, é que olho pra você e ainda vejo aquele vampiro à prova de balas e tal... Mas, já que comecei vou terminar: vocês são a janta que pensa que janta quem os janta, entendeu?
- Não. Coisa de brasileiro, esses ditados! Ninguém entende nada!
- Meu velho, deixa pra lá... Brindemos de novo...

Nesse momento o cara de voz e violão começou a tocar, e mandou, logo de cara, essa canção:

“Garçom, aqui, nessa mesa de bar...”

Eita, que o galã jogou seu copo de sangue na água, e agarrou pelo gargalo a minha garrafa de cerveja, que bebeu de uma vez só, de uma só virada, e à medida que a bebida descia as lágrimas lhe escorriam pela cara; primeiro, lágrimas de sangue; depois, lágrimas de “água e sal”, lágrimas de gente...

“...No bar todo mundo é igual/ Meu caso é mais um, é banal!...”

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Deus não existe (estilo herege)



(Antes de mais nada, imito os gregos na famosa frase: EVITE O EXCESSO, cujo espírito deve povoar toda esta crônica)

O Brasil está se tornando um país chato pra caramba. Antes, era um pobre bem humorado, um estrategista contra o desespero, um brincalhão que não conseguia esconder sua tristeza. Agora é um novo-rico padrão, com todas as virtudes e cafonices de um novo-rico.

Publicamente, tornou-se (o Brasil) um senhor respeitável, politicamente corretíssimo, e com um medo tão grande de desagradar que, pra começar, criou a expressão (desgraçada expressão) afro-descendente pra não ter que chamar o cara do que ele é: negro. Ouviram? Sim, eu disse: você, amigo, é negro, bata no peito e repita comigo! Agora, eu pergunto: o branco será euro-descendente?, o índio será o não-descendente?, e o mestiço... o pluri-descendente? – eita, o mestiço então é “fidiquenga”? Vou processar alguém!

Depois, criou-se a Homofobia, e sepultou-se 40% das mais geniais piadas nacionais (Chico Anysio, hoje, seria preso depois do primeiro programa), sem conseguir-se diminuir a discriminação – aliás, agravando-a. E o cara não é gay/veado/baitola, nem diga isso!, ele é “homoafetivo”. Ou seja, dois negros homossexuais seriam um casal de afro-descendentes que viveriam uma relação homoafetiva, e se você chamá-los de negros gays, não importa o quão respeitoso seja o seu tom, é risco de cadeia, linchamento e destruição da sua imagem pela mídia.

Mas, como a coisa pegou e espinhentos, anões, gordos, zarolhos, pernetas, feios, criados por vó etc. queriam também sua cota de “respeitabilidade”, sintetizou-se o pudor cacete no “bulliyng” (em nordestinês, o “bulindo”), que é o seguinte: deixem essa criança intocada, nada de piadas com ela. Mantenham-na em constante e saudável estado de quase histeria e desconfiança, pois esse negócio de alternar riso e choro é perigoso, é muito instável!

Mas o novo-rico Brasil tem também seu lado obscuro... Se, de um lado, é extremamente cheio de pudor, do outro é depravado, vulgar, escandalosamente seboso. E essa vulgaridade, antes ficasse só na seara sexual; ela vai além: é na música, na TV, nas ideias, na vida em geral... Sim, o país que anda de gel no cabelo, e terno e gravata, por debaixo está de fio dental...

E Deus, o que tem com isso?

Mas é sobre isso que vim prosear, ora essa!

Porque o Brasil novo-rico é também o país que criou um Deus. Criou-o, aliás, à sua imagem e semelhança (do país, e não de Deus), porque novo-rico que é novo-rico não gosta de coisa usada! Assim, como disse Rosane Collor, não foi coincidência, mas Jesuscidência haver esse Deus maravilhoso criado pelo Brasil, e não vou me esconder em metáforas: criado pelos segmentos mais radicais da igreja evangélica, a partir de um projeto empoeirado da igreja católica – advirto aos eruditos: falo como povo, e não como o teólogo que não sou.

Eu, cronista incurável, converso muito com o povão na rua, e eles me explicaram como é esse Deus. Ele é assim: É furioso. Se você não cumprir o que prometeu, lhe esmaga como a uma formiga! Sua lei, sua justiça: “olho por cabeça, dente por boca.” É fiel: não volta atrás do que disse nem com a moléstia, mesmo que esteja errado a toda evidência. Por exemplo: condena ao inferno quem não o aceitou, mesmo seja um homem do bem, imaculado, e manda pro céu quem o aceita, mesmo sendo um traficante-pedófilo-nazista que beije a Bíblia trinta segundos antes de morrer. Estranhamente, é homofóbico: lugar de gay é no inferno... E praticou bullying contra muita gente, lá nos tempos da Bíblia (Isaac que o diga...). Não chega a ser racista, mas discrimina os não eleitos, os não evangélicos – coitados dos budistas, têm mesmo que meditar pra aguentar tanto desprezo... É comerciante: recompensa fé com dinheiro. É vaidoso, global: tem que ser amado, paparicado, adorado, ter o nome repetido o dia inteiro – se o cabra falar dormindo melhor ainda: repetir o sagrado nome noite adentro... É censor: pra ele só existe um livro: a Bíblia. Pros demais: fogueira. Outra coisa curiosa: é do sexo masculino... É “o” Deus... Isso é machista e sem utilidade, não? E digo mais: não sei se salva almas, mas salva imagens que é uma beleza: tanta gente canalha e criminosa, a primeira coisa que faz quando a máscara cai é “aceitar” Jesus e sair dizendo, a plenos pulmões, que o fez, como uma necessidade de fora pra dentro, e não de dentro pra fora... É... É isso que vocês todos sabem... Ah, cansaço!

Esse Deus, meus amigos, não existe, porque uma força capaz de criar, do nada, o átomo, o tigre, a música, as galáxias, a beleza, a mulher (e, claro: um Cristo, um Buda, um Ghandi, um Chico Xavier); algo com tamanha inteligência, com tamanha virtuosidade, tão esplendoroso e tão distante de nossa pequena compreensão, jamais teria tantos defeitos de caráter, jamais seria pior que muitos dos próprios filhos.

Deus não existe. Existe, apenas, a palavra Deus, e eu não creio em palavras, creio no óbvio: que tudo o que há, se fosse fruto do acaso, seria como o resultado de quem jogasse em apenas dois números e ganhasse na mega-sena; mas, tudo sendo fruto de uma Gigante Potência, de uma Suprema Inteligência (em que creio plenamente, e diante da qual me ajoelho em humildade), não pode tentar ser definido pela burrice humana, sob pena de alguém desejar apedrejar um terreiro de matriz africana, chutar uma estátua de mulher, ou pior: furtar a mixaria de pobres, ignorantes, maltratados, fracos de caráter; os filhos de Deus...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os quatro burocratas (cotidiano)


Num bar respeitável (“bar respeitável” é pleonasmo ou contradição?) do centro de Recife, durante a “happy hour” (“happy hour” é ironia ou mau gosto?), há quatro burocratas numa mesa, que observo, enquanto meu chope chega.

Um deles, de gravata fechada, terno impecável, duro feito poste, bebe uísque. O uísque tem a exata proporção entre gelo e bebida, e o guardanapo por debaixo do copo está tão engomado quanto a camisa do burocrata. Ele o bebe com extrema precisão, e mantém a dose nem forte nem aguada, enquanto fala aos outros três:

- Sem dúvida, a gestão por resultados, pautada em rígido controle de padrões e formulários, é coisa irreversível. Cada coisa em seu lugar, cada funcionário com suas tarefas ma-te-ma-ti-ca-men-te descritas e monitoradas!

O segundo está de gravata frouxa, cabelo descuidado, barriga protuberante e desabotoada, deixando o umbigo à mostra. Bebe cerveja, e seu olhar tristonho não desgruda do copo, que segura com os cinco dedos, enquanto lastima:

- É dura essa vida. Muita despesa, muita pressão, estresse insuportável. É preciso aguentar. Júnior quer entrar na faculdade, e me disse que quer fazer Direito ou Administração. Além disso, o plano de saúde de mamãe subiu de novo! Barra pesada...

O terceiro está de gravata entreaberta, mas pronta pra apertar caso veja movimentações no bar que indiquem a chegada de um alto gestor, um chefe, alguém de elevado escalão. Com malícia nos olhos, passa a vista pelos três e, em tom confidencial, declara:

- O Gomes, do setor de logística, está dando resultados terríveis! É um posto estratégico, entendem? E a equipe dele é uma lástima! Deveríamos, pelo bem da empresa, minar esse flagelo, porque NÓS, certamente, faríamos mais jus àquelas vantagens e, claro, àquele trabalho importantíssimo! Aqui pra nós: soube que ele anda bebendo demais...

O quarto, de paletó amassado, tem um violão no colo, já está com a gravata amassada e enfiada no bolso da frente, e vai a meio caminho do pileque. Os três o encaram, inquisitivos, como esperando sua opinião. Ele salpica um solinho, e manda ver:

- “Dinheiro na mão é vendaval, é vendaval, na vida de um sonhador, de um sonhador! /Quanta gente aí se engana, e cai da cama com toda ilusão que sonhou...”

Sorrio. Meu chope chega. Olho pra rua. Vejo os carros engarrafados, os ônibus, com jeito bovino, e a gente, fazendo trilhas nas calçadas como formigas.

Volto aos quatro, que já aprofundaram o papo.

O impecável:

- Temos que organizar as finanças, da empresa e as pessoais, que a vida é dura se não há disciplina. Meu pé de meia, e minha aposentadoria privada já estão ma-te-ma-ti-ca-men-te planejados...

O triste:

- A vida é um castigo... Minhas taxas estão péssimas: colesterol, ferrentina, glicose... A pressão, então, nas alturas! Terei que me acostumar à vida sem sal...

O estrategista:

- Ambição saudável não é pecado! Precisamos, merecemos posições melhores, e pra isso, só unindo forças! O mundo é dos mais sabidos! Escutem o que digo, pois acho que estou falando pra estátuas!

O do violão:

- “Eu fico com a pureza da resposta das crianças: é a vida, é bonita e é bonita!”

Uma viatura passa, sirene nas alturas, e por um instante todo o bar, salvo os quatro burocratas, para pra ver. Rapidamente tudo cessa, e os ônibus, como bois, andam, e os carros, impacientes, buzinam, e a gente, metodicamente, caminha.

E na mesa os burocratas...

O estrategista:

- Quem vai pedir a conta?

O impecável, em gesto solene e elegante, levantando o indicador discretamente:

- Garçom...

O triste que, por estar distante e de olhos caídos, não viu o impecável pedir a conta, levanta o braço com extremo esforço, mas não tira a cara da mesa.

O do violão:

- “Eu vou beber “arrudiado” de mulher, devo e não nego, pago quando puder!”

Chega o garçom.

O impecável pega a comanda, saca um smartphone, calcula tudo e diz:

- Está tudo em ordem. Pra mim, que bebi uísque, são quarenta reais. Para vocês, trinta pra cada.

O triste saca seis notas de cinco do bolso e, com dor no coração, deixa-as debaixo de um copo.

O estrategista puxa a carteira e, com desconfiança contra os demais, abre-a cautelosamente, escondendo seu conteúdo. Tira uma nota de vinte e uma de dez, e as entrega diretamente nas mãos do impecável, murmurando:

- Esse bar é bom, mas deveríamos estar em outro patamar de luxo...

E o músico, deixando suas notas na mesa, taca:

- “Já vou embora, mas sei que vou voltar/Amor, não chora, se eu volto é pra ficar...”

Chegou também minha conta, e achei engraçado à beça quando passei o cartão magnético na maquineta, e ela acendeu a telinha, como dando boas novas, que li feito legendas debaixo dos quatro burocratas que se iam: TRANSAÇÃO ACEITA.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Quem é burro? (estilo policial)


Se tem uma coisa que aprendi durante os anos em que fui delegado de polícia no sertão, é que não é muito prudente tirar onda com um matuto.

O matuto, disse-o bem Zé Lezin, tem resposta pra tudo, e pensa ligeiro pra caramba, tornado um contra-ataque quase impossível porque, no mínimo, a resposta do não-matuto vem com o dobro de tempo, o que a faz, mesmo que boa, perder metade da graça. E digo mais: não é só pela malícia com que responde, não é só pela ligeireza da resposta; danada é a falsa ingenuidade que o matuto usa pra desmoralizar o oponente. Ele fala com desimportância, meio leso, muito casual, natural como quem dá bom dia, só na intenção de debochar do cidadão.

Eu, de minha parte, que por quase nada fico acanhado e de cara vermelha, gosto só de ouvir e guardar as sacadas do matuto – nada de atiçá-lo.

Pois bem, segue um causo que ocorreu em minha presença, durante uma oitiva de testemunha:

Um sujeito vinha, lá em Catolé do Rocha, cheio de cana, em cima duma motinha daquelas de tanque quadrado e placa amarela. Ele estava sem capacete nem nada, que por lá e acolá dos sertões as motos substituíram jumentos e cavalos, mas o capacete não fez o mesmo com os chapéus. E ele vinha enfiado na carreira pela rodovia quando, depois de uma curva, deparou com uma carroça. A moto não tinha freio, o condutor não tinha reflexo, e a carroça (guiada por outro bêbado) não tinha que estar ali.

Deu-se o óbvio: moto por baixo, motoqueiro pelos ares, hospital, óbito e menos um matuto a mais, e mais um matuto a menos.

Acontece que, num roçadinho de beira de estrada, havia um amigo do acidentado, que também era amigo do sujeito da carroça, a capinar, e ele viu tudo.

Intimei-o como testemunha.

Ele chegou à delegacia, matuto clássico: bigode riscado, chapéu, fala econômica, todo encolhido, olhando pro chão, com uma RG de 1975 no bolso da frente.

- Por favor, sente-se.
- Sim sinhô.

A escrivã tomou seus dados etc., e eu fui ouvi-lo pra saber do acontecido.

- Mestre, vamos direto aos fatos. Como a coisa se deu?
- Dotô, o cabra da moto, cumpadi meu de infânça, vinha todo coisado, rabianu a moto quinem doido, e estatelou-se por riba da carroça, dispois que fêiz a cuiva.
- O senhor acha que ele vinha bêbado?
- Avimaria! Pelo jeito, é coisa certa.
- Ok. E o cabra da carroça, vinha bêbado também?

O matutinho parou, olhou pro chão, interrogativo e lamentoso, e disse:

- Dotô, o cabra é meu amigo de infânça também...
- Sim, mas eu quero saber se ele estava com sinais de bebedeira...
- Maizi ele subriviveu...
- Eu sei, mas é importante eu saber desse fato, entende?
- Maizi, e eu vô fala dum cabra meu amigo?
- Ou isso, ou o senhor responde pelo falso...
- Então, dotô, eu só vô dizê uma coisa só que arresponde o que o sinhô qué, aí o sinhô vê...
- Diga.
- A carroça, dotô delegado, vinha guiada pelum burro...

Eu parei e olhei pro cidadão, primeiro com raiva, depois com uma profunda admiração. Não tive mais como fazer nenhuma pergunta. Encerrei a oitiva, apertei-lhe a mão com reverência, e fiquei, alisando a gravata, a contemplar meus pensamentos previsíveis, repetindo: “como é que pode?”