Pablo de Carvalho

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Recife, Pernambuco, Brazil
Escritor (romancista), compositor, cronista e delegado de polícia. Vencedor do prêmio Alagoas em cena 2006, com o romance Iulana, publicado, no mesmo ano, pela Universidade Federal de Alagoas. Vencedor regional e nacional do programa Bolsa Funarte de Criação Literária 2011, da Fundação Nacional de Artes, do Ministério da Cultura, com o romance policial Catracas Púrpuras, lançado no Rio de Janeiro, em novembro de 2012. Escreveu, também, a novela O Eunuco (Edições Catavento, 2001), e o romance O Canteiro de Quimeras (Writers, 2000). Compôs, em parceria com Chico Elpídio, o disco Contemporâneos.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A destruição da Música Brasileira - a destruição da palavra.

Quanto mais dificuldades tivermos para lidar com as palavras, mais dificuldades teremos para pensar; quanto menos pensarmos, mais idiotas e manipuláveis seremos – é o óbvio que quase ninguém mais percebe.

Não gosto do termo MPB, porque na cabeça das pessoas ele exclui o Rock e tantas outras manifestações populares verdadeiras. Assim, usarei a expressão Música Brasileira. Pois bem.

Quando a gente ouve uma frase genial de um Cartola (“abismo que cavaste com teus pés”), de um Guilherme de Brito (“tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor”), de um Djavan (“o amor é como um raio, galopando em desafio; abre fendas, cobre vales, revolta as águas dos rios”), e de tantos outros grandes compositores do Brasil – a lista é gigantesca –, sabemos automaticamente que as gerações que viviam ouvindo aquelas canções eram mentalmente sãs. O produto revela o consumidor.

Não é segredo para ninguém que o Brasil vive, há décadas, um processo de emburrecimento coletivo, de dominação política radical (pelos brutamontes da extrema direita, antes; e agora pelos papagaios fanáticos da extrema esquerda), e de relativização de coisas como a beleza, o talento, a justiça, a infância etc. O Brasil levantou seu próprio paredão cultural e abriu fogo com violência contra o cérebro de seus filhos, na intenção de transformar gente em gado. E quem foi a primeira vítima desse pelotão de fuzilamento? A Música Brasileira! – pelo menos não vi outro cadáver antes desse, embora agonizem na fila de espera as religiões, a filosofia e as artes em geral. Sim, os fuzileiros da estupidez mataram a pobre música primeiro porque ela, além de se ser frágil como um passarinho, é a arte que atinge mais rapidamente o coração do povo.

Quem não consegue articular uma frase, não consegue articular um pensamento. A música que se cria e se vende hoje no Brasil (salvo raríssimas exceções), a música de produção contemporânea e consumo generalizado, é um sintoma muito grave de estupidez porque demonstra que o povo está perdendo a capacidade pensar; que estamos regredindo a bestas fundamentais que apenas repetem frases-prontas, cada vez menores e mais vulgares.

Gradualmente, a palavra é tirada do povo Brasileiro, e em breve, se as coisas não mudarem, a comunicação será feita apenas por urros, latidos, ganidos, miados e flatulências. Depois, bastará uma chibata na mão de uma tirania, como uma batuta estalando nas costas do povo, que será só uma terrível orquestra de silêncios.