Pablo de Carvalho

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Recife, Pernambuco, Brazil
Escritor (romancista), compositor, cronista e delegado de polícia. Vencedor do prêmio Alagoas em cena 2006, com o romance Iulana, publicado, no mesmo ano, pela Universidade Federal de Alagoas. Vencedor regional e nacional do programa Bolsa Funarte de Criação Literária 2011, da Fundação Nacional de Artes, do Ministério da Cultura, com o romance policial Catracas Púrpuras, lançado no Rio de Janeiro, em novembro de 2012. Escreveu, também, a novela O Eunuco (Edições Catavento, 2001), e o romance O Canteiro de Quimeras (Writers, 2000). Compôs, em parceria com Chico Elpídio, o disco Contemporâneos.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O coqueiro é alto e o jumento é ligeiro (cotidiano cômico)

“Todo homem tem algo a me ensinar,
e nisso eu sou seu discípulo.”
Emerson



O dia é sexta-feira. E é fim de expediente: tarde caindo, a vontade de beber subindo.

Lá em Maceió, na construção dos apartamentos que meu irmão está levantado, o conjunto Fabrizziópoles, juntamo-nos à peãozada pra beber. Rara ocasião em que ele, Fabrizzio, paga algo pra alguém.

E é rara, também, por outros detalhes, que aliás são o principal: o tira-gosto fervendo na panela preta e amassada, com lenha que é sobra de construção. Não sei o que diabo vai ali dentro (e nem é bom saber), mas a delícia que sai daquela mistura é de morder até os dedos, se o cabra se descuida. Tem a cerveja geladíssima, em quantidades industriais, e uma caninha de lambuja. Sentamos em bancos T (um tijolo em pé, outro deitado), ao redor da mesa de zinco, pra escutar Cabravéi falar.

Cabravéi, o mestre de obra, um anjo de gente, um monstro de trabalhador, um gênio da narrativa, de olhos verdes e acesos sobre um bigode que é só aquele risquinho. Muito esperto, com seu chapéu preto de grandes abas, sua cara galega queimada e, acima de tudo, sua inteligência rara pra levantar imagens que, confesso, ficarão incompletas neste texto, que é mais homenagem que reprodução, pois ele falando dá de dez.

Já na primeira vez que participei dessa reunião virei tiete.

Sentei-me ao lado de Cabravéi, quando um pedreiro começou a falar:

- Mais hômi, vocês num sabe é di nada! Eu já vi um mamuêro que tinha, só num lado, 180 mamão! Isso sem contá os que tinha do lado di trás, que num deu tempo di contá...

Cabravéi arregalava os olhos, fazia que se levantava, com uma cara indignada.

Eu pensava que ele estava revoltado com uma mentira daquelas, mas não: ele estava com raiva porque o cabra estava mentido mais que ele, que, afinal, era o mestre da obra!

E o cabra ia falando, e Cabravéi olhando sem desgrudar, pegando ar, e me dando cotoveladas, uma mais forte que a outra, enquanto murmurava pra mim:

- Piamermo, piamermo; piamermo...

Quando o outro terminou, o Cabravéi aprumou-se no tijolo, estufou o peito e mandou:

- Maxtá... Vocês sabi é di nada! Num anda, num vê o mundo! Esse aí mermo, vêi de Parmeira dos Índio numa inxurrada, caiu in Maceió e pronto, ficô... Hômi, eu vi foi um coqueiro, assim grandão, que o cabra subiu nele cum 16 ano e vortô pusentado do INSS! Isso falano di pranta, que, falano di bicho, eu já vi um jumentinho na carrêra, se cagando todo com medo di lubizômi, e com duas cangaia nas costa, fazê um cuiva tão ligêra, mas tão ligêra, mas tão ligêra que quando ele parô, e fôro dá fé, a ruma di merda tava intêrinha dentro da cangaia!

Risada geral, e Cabravéi fazendo cara de sério, sustentando a versão vírgula por vírgula, sem abrir nem pra um trem desgovernado...

Pra não me alongar demais, vou deixá-los só com esse aperitivo. Mas, o melhor (ainda) de Cabravéi está por vir, em breve, neste blog.


Inté!

Um comentário:

  1. a vida cheia de alexandres e outros heróis hehe.
    a vida cheia de pantaleões.

    arretado.

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