Pablo de Carvalho

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Recife, Pernambuco, Brazil
Escritor (romancista), compositor, cronista e delegado de polícia. Vencedor do prêmio Alagoas em cena 2006, com o romance Iulana, publicado, no mesmo ano, pela Universidade Federal de Alagoas. Vencedor regional e nacional do programa Bolsa Funarte de Criação Literária 2011, da Fundação Nacional de Artes, do Ministério da Cultura, com o romance policial Catracas Púrpuras, lançado no Rio de Janeiro, em novembro de 2012. Escreveu, também, a novela O Eunuco (Edições Catavento, 2001), e o romance O Canteiro de Quimeras (Writers, 2000). Compôs, em parceria com Chico Elpídio, o disco Contemporâneos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Problemas de interpretação... (cotidiano cômico)



Final de semana passado levei minha filha ao zoológico, pra ver os animais cativos.

Aprendi logo que o cativeiro (talvez salvo pros homens – exceções à parte, que tem doido pra tudo) é um conceito muito relativo no que diz respeito ao conforto.

Há animais que estão, verdadeiramente, acabados, tristes, mofinos, doidos. São, em regra, as aves, os grandes predadores e aqueles animais latifundiários que se sustentam em vastos territórios e migrações fantásticas. Dentre esses há: a ala dos esquizofrênicos, alucinados, que estão em franco delírio prisional. Já outros estão excitados em excesso, revoltados a bater nas barras, grunhindo sua rebeldia, seu inconformismo. Outros estão simplesmente vencidos pela depressão – feito o leão que, pra engravidar uma fêmea, copula algumas dezenas de vezes; o do zoológico enviuvara, e não lhe restava consolo na vida, nem o “fazer justiça com as próprias patas”, haja vista as afiadíssimas garras: era, o pobre, um grande espartano melancólico.


Por outro lado há uma bicharia alegre. São as caças, as presas, as refeições, e o proletariado da selva: pequenos roedores, répteis (acho que por causa do sangue frio), ruminantes e outros que tais. Esses, fora do alcance dos dentes alheios, parecem zombar dos visitantes, estufando seus vulneráveis peitos com exagerado orgulho e indisfarçada sensação de invencibilidade.

Mas, puxando pelo título desta crônica, vim falar de problemas de comunicação. E, primata que sou, desentendi-me com outro primata.

Explico:

Passávamos pelas jaulas dos macacos (babuínos, macacos-prego, macacos-aranha – este, o bicho mais sem-vergonha que existe, brasileiro nato e honorário – e outros mais). Numa jaula do canto, havia dois macaquinhos amarelos, cabeçudos (cearenses, desculpem, mas lembrei de uns amigos) e brincalhões (cearenses, é isso mesmo). Não sei da raça, nem da idade, mas achei (acho, sei lá), que eram apenas filhotes. Bem, o fato é que assobiei pra um deles, que espichou os olhos pra mim. Fiquei todo orgulhoso porque, quase sempre, eles não dão bola pra visitante qualquer. Pensei: pô, eu devo ter um dom de comunicação único! Continuei assobiando, fazendo gruídos, barulhos finos, e ele me encarava, balançava o corpinho, atento, quase bípede. De repente, saltou prum galho, balançou-se numa corda e agarrou-se à tela num salto cinematográfico, olhando-me com vivacidade. As pessoas ficaram admiradas; minha filha encantou-se. Mas, pobre de mim, que me iludi! Quando fui ver, o macaquinho, a me encarar, dentes arregalados, boquinha aberta, fazendo mil caretas, exibia uma baita ereção… Puxa vida, só aí notei a carinha de tarado dele! O pintinho balançava, subia e descia, apontando em minha direção! Risada geral e eu, humilhado, mal interpretado, passei, a passos pesados, rumo à jaula do hipopótamo, que estava submerso, indiferente, e não oferecia risco ao meu pudor.

É nisso que dá inventar de falar um idioma que não se conhece.


3 comentários:

  1. Não fique triste, pois isso revela a sua sensualidade e afinidade com os machos.


    Fábio Moura.

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    1. Que é isso, companheiro! Na verdade, revela a burrice geral da macharia! Abração!

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  2. Prezado amigo,
    Crônica ilária e comentário idem!
    Silvia Renata

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