(Dedicada ao Luís Vilar, longo amigo)
Eita, lua velha para ver desgraça! Hoje eu estou de uma tristeza sem par... Amigo, longo amigo viajante, abre uma cerveja, acende um cigarro e me escute, que subitamente me bateu o bote de uma tremenda vontade de escrever! E não apenas de escrever: de voltar a escrever... E isso não é assim um rompante em esgrimas de pena à moda Dom Quixote; nada disso! É uma coisa do cronista que vê que, do céu ao esgoto, tudo está mudando numa velocidade de terremoto: os homens e mulheres se desfiguram gradualmente; a beleza tem lepra e é posta em marcha forte ao caminho da sepultura, e o tiquetaque das cidades virou uma cantilena de abjeções que valei-me Deus! Como calar? Como calar?!
Vi um sabiá pendurado no fio, entre postes altos como gritos e solenes como monges. Piava feio. Piava sem melodia. Mas piava sentindo. AINDA era um sabiá.
No carnaval recém-passado, vi um folião dançando doidamente – e dançava mesmo no intervalo das troças, quando não havia música; dançava para a orquestra que lhe soava na cuca... O mundo girava em torno dele e ele, naquele alheamento deslumbrado, dançava, dançava, dançava, fantasiado de “supererói”...
É preciso dançar, amigo velho, mesmo sem música; é preciso cantar, longo amigo da trajetória, mesmo sem voz, e é preciso escrever, amigo do Verbo, mesmo vivendo ao léu, no coração dos antitemas.
Pablo de Carvalho
- Pablo de Carvalho
- Recife, Pernambuco, Brazil
- Escritor (romancista), compositor, cronista e delegado de polícia. Vencedor do prêmio Alagoas em cena 2006, com o romance Iulana, publicado, no mesmo ano, pela Universidade Federal de Alagoas. Vencedor regional e nacional do programa Bolsa Funarte de Criação Literária 2011, da Fundação Nacional de Artes, do Ministério da Cultura, com o romance policial Catracas Púrpuras, lançado no Rio de Janeiro, em novembro de 2012. Escreveu, também, a novela O Eunuco (Edições Catavento, 2001), e o romance O Canteiro de Quimeras (Writers, 2000). Compôs, em parceria com Chico Elpídio, o disco Contemporâneos.
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