Pablo de Carvalho

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Recife, Pernambuco, Brazil
Escritor (romancista), compositor, cronista e delegado de polícia. Vencedor do prêmio Alagoas em cena 2006, com o romance Iulana, publicado, no mesmo ano, pela Universidade Federal de Alagoas. Vencedor regional e nacional do programa Bolsa Funarte de Criação Literária 2011, da Fundação Nacional de Artes, do Ministério da Cultura, com o romance policial Catracas Púrpuras, lançado no Rio de Janeiro, em novembro de 2012. Escreveu, também, a novela O Eunuco (Edições Catavento, 2001), e o romance O Canteiro de Quimeras (Writers, 2000). Compôs, em parceria com Chico Elpídio, o disco Contemporâneos.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

10 coisas que só o matuto faz


Durante meus anos de sertão, vi o matuto fazer coisas nunca antes repetidas em conjunto num homem só, pelo menos no que me conste.

Seguem as de que lembro, e peço ao leitor que, se souber, aumente a lista:

1. Acordar às quatro da matina, trabalhar até às seis, comer uma buchada com cuscuz, arroz e feijão, e voltar à roça, leve-leve, como se nada tivesse acontecido;

2. No fim desse mesmo dia, sentar com os “cumpadi”, tomar um litro de cana com carne assada, dormir e acordar às quatro da matina, trabalhar até às seis, comer uma buchada com cuscuz, arroz e feijão, e voltar à roça, leve-leve, como se nada tivesse acontecido;

3. Brincar com uma criança virando criança também, sem soar ridículo, falso ou imaturo;

4. Fazer de conta que o sol não existe: não transpirar, não despelar, beber pouca água;

5. Matar um bicho com ternura. Um homem da cidade não mata um bicho, assassina-o. O matuto o mata como se lhe fizesse uma eutanásia;

6. Dormir em rede – que inveja! – como uma criança dorme dentro da barriga da mãe. Em rede ele dorme, em camas nós apenas passamos a noite;

7. A clássica: ter resposta pra tudo. Com a mesma ternura que mata um bicho, desmoraliza um oponente;

8. Entender que não adianta reclamar. Matuto não reclama quase nada. Ele é sábio, e sabe que ninguém ouve ninguém nesse mundo de Deus. Ele vai em busca de solução, controlado, duro, mesmo ruindo, mesmo deslizando pra desgraça;

9. Tirar onda das autoridades (Padre, Prefeito, Delegado, Juiz, Promotor) sem desrespeitá-las. Criticar sem agredir. Lembremos a antológica frase se Jessier Quirino, quando disse que o matuto disse que o cabra estava “mais iscondido qui rapariga di pastor...”

10. Passar duas horas acocorado, mordendo um pedaço de planta, levantar e sair andando de pernas soltas, como se nada tivesse acontecido. Eu mesmo, em cinco minutos, entrevava.

Isso só pra dizer o que me consta.

Salve a grandeza da matutada!

3 comentários:

  1. Levar o passarinho na gaiola pra passear de manhã bem cedinho (na verdade, de madrugada).
    Usar uma camisa de botão mais estampada do que chita do atacadão dos tecidos (conhecida no interior como "volta ao mundo") sem se sentir ridículo, mesmo estando ridículo.
    Sentar para "dois dedos de prosa" e conseguir prender a atenção dos ouvintes por quase duas horas com suas estórias e opiniões, mesmo sendo analfabeto.
    Ter prazer com as pequenas coisas da vida, que não custam nada ou quase nada, ao contrário de nós Homens capitalistas da cidade grande que vivemos infelizes na ânsia de acumular riquezas que nunca são suficientes e, por isso mesmo, nos frustram.
    E a última que eu posto; é a única que não acho vantagem para o matuto em relação aos metropolitanos: Se iniciar sexualmente com qualquer bicho que tenha entranhas quentinhas do tipo, cabra, galinnha, burra, égua...

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  2. HO MUNDÃO ADORO SER CAIPIRA ACORDAR CEDO E TOMAR LEITE NO CURAL CEDINHO EITHAAA E NOIS!!!!

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