Pablo de Carvalho

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Recife, Pernambuco, Brazil
Escritor (romancista), compositor, cronista e delegado de polícia. Vencedor do prêmio Alagoas em cena 2006, com o romance Iulana, publicado, no mesmo ano, pela Universidade Federal de Alagoas. Vencedor regional e nacional do programa Bolsa Funarte de Criação Literária 2011, da Fundação Nacional de Artes, do Ministério da Cultura, com o romance policial Catracas Púrpuras, lançado no Rio de Janeiro, em novembro de 2012. Escreveu, também, a novela O Eunuco (Edições Catavento, 2001), e o romance O Canteiro de Quimeras (Writers, 2000). Compôs, em parceria com Chico Elpídio, o disco Contemporâneos.

sábado, 11 de agosto de 2012

Perguntas pra quem entende e pra quem não entende de futebol (cômico)


É um costume consagrado, na crônica brasileira, falar-se de futebol.

Mas, confesso humildemente, de futebol não entendo nada.

Então respeitosamente lanço àqueles que manjam do assunto as seguintes perguntas (se o leitor quiser, acrescente outras), pra ver se embarco nessa onda brasileiríssima, essa lacuna em meu repertório.

Lá vão:

1) Por que o Brasil é chamado de O País do Futebol? Se temos duzentos milhões de habitantes, todos praticando quase que só este esporte, e com biótipos pra tudo que é função, não deveríamos ser tão imbatíveis quanto os jogadores de basquete dos EUA? Por que levamos lapada de países como a França, do tamanho quase que da Paraíba, e que têm outras coisas pra cuidar? Será que não temos mais vocação pra torcer que pra jogar?

2) Por que se duvida da supremacia de Pelé alegando-se que naquele tempo se corria menos que hoje? Isso muda a técnica? Todos não corriam menos? Que tem a ver o futebol com a maratona?

3) Por que alguém que nem sabe onde fica a sede de certos clubes (Flamengo, por exemplo), nem o que significam seu nome e sua história, se torna fanático por esse time? Por que, sendo assim, morrem e matam (literalmente) por uma causa sem causa?

4) Por que alguns comentaristas dizem, num programa, que têm saudade do futebol-arte e, no outro, que jogo bonito não vence partida?

5) Por que noventa por cento desses mesmos comentaristas repetem, antes de todo jogo, isso: “o time A vai partir pra cima, e pode liquidar logo a partida; mas, se o time B partir pro contra-ataque, pode vencer”? Isso eu também sei dizer...

6) Por que os comentaristas de arbitragem quase sempre só criticam os juízes depois do replay?

7) Por que se diz que o craque é um artista da bola, e se condena o fato de ele ganhar milhões, e não se faz o mesmo com um artista da música, mesmo sendo este um perna de pau? E por que a gente só critica a raparigagem daquele?

8) Aliás, falando da pergunta anterior, por que a gente critica o Kaká por ser careta, o Ronaldinho por ser farrista e biriteiro, e o Romário por ser farrista e não beber? Pra agradar o cara teria que ser careta, farrista, cachaceiro e abstêmio ao mesmo tempo?

9) Por que se diz que Galvão Bueno é burro? Um cara que consegue animar uma corrida de Fórmula-1, que é praticamente um engarrafamento de luxo (porque ninguém ultrapassa ninguém), não deveria, pelo menos, ser chamado de brilhante? Não seria demais querer que, nesse tanto tempo, ele nunca dissesse uma bobagem? Quem conseguiria isso?

10) E a última e, pra mim, a mais intrigante: um crítico de qualquer coisa (cinema, literatura, culinária etc.) ou não atua na área que critica, ou nela é ou foi gênio, sob pena de desmoralização. Por que cargas d’água, então, a gente houve e considera a opinião de quem, quando esteve dentro das quatro linhas, foi inimigo declarado da bola?

Aguardo as respostas, e por favor não esculhambem minha mãe – ou esculhambem, mas refiram-se àquela mãe imaginária que todo brasileiro tem pra servir de alvo pros amigos, que inimigo bate mesmo é na mãe biológica.


Atenciosamente,

Pablo de Carvalho

Um comentário:

  1. Muito bom, caro Pablo. Acho que você é, não só um cronista, mas um grande observador. Tudo oquilo a que sua crônica se refere é verdade e muito interessante. Sua crônica é inteligente. Pode mandar milhares dessas para mim. Não vou me cansar.

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